sábado, 21 de fevereiro de 2015

Pirandopoles*

Preciso escrever!

PALAVRAS!

Mesmo que não faça sentido nesse momento, no final de tudo, encontro um sentido para os meus pensamentos que estão a 1000 km/h.

Já pensou qual é a velocidade do pensamento?



Nossa!

Estou em casa após um intenso ensaio. Minha cabeça está quase dando um tiuithxu* de tanta informação.  Acho que preciso fazer algo com elas, então vou colocá-las no papel.
Iniciamos o trabalho nessa semana após o Carnaval,   conduzido por Guga Cidral, um menino maluquinho como nós, porem  com uma dose de pimenta maior.
Enquanto escrevo tento organizar os meus pensamentos, pois estou envolta por imagens, tintas, musica e poesia. Uma misselania* de elementos, todos na minha mente e no meu coração.
A palavra pinta, a tinta voa, a música fala e nós... nós? Onde estamos no meio dessa bagunça gostosa? Não sei mais o que é a musica, o que é a tinta, o que é o som e  que são as palavras.  Ah, tudo isso agora somos nós. Como é possível?

Magia!

Mas, Vamos começar do começo.

Iniciamos o trabalho brincando com as palavras, através da musica, da poesia e dos sons.
Guga, trouxe a Coletânea das poesias de Cecilia Meireles narrada por Paulo Autran. 
Ouvíamos as doces palavras de Cicília  e tentávamos nos tornar a poesia a partir do nosso corpo. Brincamos, exploramos inúmeras possibilidades. Um turbilhão de sentimento surge em mim, alegria, tristeza,energia de viver,solidão....  Só resta entregar-se e fluir, como a vida, como o rio, que simplesmente segue seu fluxo em busca de um caminho. Respirar fundo é o comando, tire os pés do chão e vá além.

Construindo um rabo! Será que é um rabão? Ou um Rabinho?

Pensamentos: “Que esquisito” “que lindo” “Ops! me desequilibrei”.  “AI!”

Palavras- água, eco, terra, mentira, liberdade, harmonia, amigo,  favela, natureza viva, natureza morta, cores, fruta, pé...palavra,palavras...

Com gestos e formas corporais, dávamos vida às palavras.

Recebemos muitos materiais, papeis com muitas cores, azul, amarelo,rosa, vermelho.
Estávamos livres para construir, reconstruir, rasgar, picar, dançar, compor, voar e brincar com os papeis, sempre conectados com a  musica e a condução do Guga.

1° paço- Construir uma bailarina em um dos integrantes. (não sejamos óbvios) 
Na construção, fomos criando formas com o papel e compondo a nossa bailarina João. Num misto de idéias e  harmonia criamos uma linda bailarina clown, com laçinhos e espada.

2° paço- desconstrução.
Desconstruímos a bailarina João, e com os retalhos de papeis criamos uma bailarina no ar, cada pedaço de papel que cada um segurava se transformava em um pedaço da bailarina. As pernas, a saia , os braços e todo o seu corpinho. Em um corpo só  dançamos com ela pelo espaço.

3° paço- Construção e desconstrução.
Como o vento que passa  levando as  folhos, deixamos nossos papeis voarem. E o próximo comando foi  “A CUCA”. Em um corpo só, reunimos os retalhos que pairavam pelo ar, e quando menos esperávamos nossa Cuca surgia.

 MANACA!!  Gritou ele do alto do morro.

Já sei, é um pássaro. Vamos voar muito alto! Ops, não voa! Está na terra e bem enraizado. Descobrimos que é a árvore do Brasil. Que bela flor. Delicada, lilás e cheirosos.

Individualmente fomos para o nosso quintal. Para construí-lo  com o papel e as cores. Uma maquete do nosso pequeno grande universo criativo. 
Algo abstrato se construía, aos poucos as formas ganhavam vida ou a nossa imaginação dava vida a elas. Uma pequena tribo surgia, uma indústria de idéias, o jardim das violetas, a árvore de borboletas, um totem, uma ponte com piranhas vegetarianas e um barco no alto da industria de idéias, faziam a entrega das idéias em barcos pelo mundo. E naquela dia, havia chovido colorido.
Enfim, o portal se abriu. 1,2,3, e já! Estamos em casa!


Considerações finais:

Um estado de criança, simplesmente ser.  Não precisamos fingir. É um estado natural que conseguimos alcançar.  Acho que isso é liberdade.  

Enfim... O outro dia! TANTA TINTA!




Ah! Menina tonta.

Toda suja de tinta
mal o sol desponta!
(sentou-se na ponte,
muito desatenta...
e agora se espanta:
quem é que a ponte pinta
com tanta tinta?...)
A ponte aponta
e se desaponta.
A tontinha tenta
limpar a tinta,
ponto por ponto
e pinta por pinta...
Ah! A menina tonta!
Não viu a tinta na ponte

Quanta tinta Guga!

Começamos de tarde preparando a sala para a noite tão esperada! A noite da tinta.
Fizemos quadrados com os papeis, deixamos a sala limpa e organizada. Mal sabíamos como ela ficaria no final da noite. Só Tinta e gargalhada!

Cada um escolheu um quadrado de papel e um pote de tinta. Começamos com uma palavra e essa palavra era o inicio de muitas outras que se transformavam. Do AR surgiu a ARARA, do PÓ surgiu o POMAR.  Da MÃO surgiu SIMÃO.  Da FÉ surgiu o FETO.  Em movimentos circulares passávamos de um quintal para o outro, e íamos complementado o quintal do outro com a nossa arte. Somos muito arteiros eu acho.

Começamos pela pontinha do dedo e um pinguinho de tinta. E de repente esse pinguinho de tinta de transformou em uma tempestade de pingos brancos, amarelos, azuis e vermelhos.  E quando percebemos, nos tornamos a tinta!

Voltamos para o nosso jardim inicial. Guga colocou a canção “antigamente” e entramos no universo das Kartas, da menina que deixava para trás a sua boneca. Caminhei pelo espaço, sentia como se cada quintal tivesse uma boneca que um dia fora deixado por alguma criança. A boneca de Ju, o boneco de João, a boneca de Karin, o robô de Edgard.  Queria acalentá-los, mas a solidão de cada um era tanto que não pude. 

Avistei alguém, repleto de cores e esquisitices. Simplesmente sentei e ali fiquei. A chuva de tinta cobria o meu corpo e quando percebi, aquele  homem engraçado, me protegia da chuva me envolvendo em um manto de plástico.  E a poesia aconteceu.

Considerações finais:
Um mergulho poético na tinta. “Fique muda e o mundo se abrirá” e assim aconteceu.


Pirandopoles*- Um lugar dentro de cada um que podemos pirar e pirar;
Tiuithxu*- Quando não conseguimos dar conta das informações em  nossa mente;
Misselania*- Um misto de coisas meladas;

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