sábado, 21 de fevereiro de 2015

Pirandopoles*

Preciso escrever!

PALAVRAS!

Mesmo que não faça sentido nesse momento, no final de tudo, encontro um sentido para os meus pensamentos que estão a 1000 km/h.

Já pensou qual é a velocidade do pensamento?



Nossa!

Estou em casa após um intenso ensaio. Minha cabeça está quase dando um tiuithxu* de tanta informação.  Acho que preciso fazer algo com elas, então vou colocá-las no papel.
Iniciamos o trabalho nessa semana após o Carnaval,   conduzido por Guga Cidral, um menino maluquinho como nós, porem  com uma dose de pimenta maior.
Enquanto escrevo tento organizar os meus pensamentos, pois estou envolta por imagens, tintas, musica e poesia. Uma misselania* de elementos, todos na minha mente e no meu coração.
A palavra pinta, a tinta voa, a música fala e nós... nós? Onde estamos no meio dessa bagunça gostosa? Não sei mais o que é a musica, o que é a tinta, o que é o som e  que são as palavras.  Ah, tudo isso agora somos nós. Como é possível?

Magia!

Mas, Vamos começar do começo.

Iniciamos o trabalho brincando com as palavras, através da musica, da poesia e dos sons.
Guga, trouxe a Coletânea das poesias de Cecilia Meireles narrada por Paulo Autran. 
Ouvíamos as doces palavras de Cicília  e tentávamos nos tornar a poesia a partir do nosso corpo. Brincamos, exploramos inúmeras possibilidades. Um turbilhão de sentimento surge em mim, alegria, tristeza,energia de viver,solidão....  Só resta entregar-se e fluir, como a vida, como o rio, que simplesmente segue seu fluxo em busca de um caminho. Respirar fundo é o comando, tire os pés do chão e vá além.

Construindo um rabo! Será que é um rabão? Ou um Rabinho?

Pensamentos: “Que esquisito” “que lindo” “Ops! me desequilibrei”.  “AI!”

Palavras- água, eco, terra, mentira, liberdade, harmonia, amigo,  favela, natureza viva, natureza morta, cores, fruta, pé...palavra,palavras...

Com gestos e formas corporais, dávamos vida às palavras.

Recebemos muitos materiais, papeis com muitas cores, azul, amarelo,rosa, vermelho.
Estávamos livres para construir, reconstruir, rasgar, picar, dançar, compor, voar e brincar com os papeis, sempre conectados com a  musica e a condução do Guga.

1° paço- Construir uma bailarina em um dos integrantes. (não sejamos óbvios) 
Na construção, fomos criando formas com o papel e compondo a nossa bailarina João. Num misto de idéias e  harmonia criamos uma linda bailarina clown, com laçinhos e espada.

2° paço- desconstrução.
Desconstruímos a bailarina João, e com os retalhos de papeis criamos uma bailarina no ar, cada pedaço de papel que cada um segurava se transformava em um pedaço da bailarina. As pernas, a saia , os braços e todo o seu corpinho. Em um corpo só  dançamos com ela pelo espaço.

3° paço- Construção e desconstrução.
Como o vento que passa  levando as  folhos, deixamos nossos papeis voarem. E o próximo comando foi  “A CUCA”. Em um corpo só, reunimos os retalhos que pairavam pelo ar, e quando menos esperávamos nossa Cuca surgia.

 MANACA!!  Gritou ele do alto do morro.

Já sei, é um pássaro. Vamos voar muito alto! Ops, não voa! Está na terra e bem enraizado. Descobrimos que é a árvore do Brasil. Que bela flor. Delicada, lilás e cheirosos.

Individualmente fomos para o nosso quintal. Para construí-lo  com o papel e as cores. Uma maquete do nosso pequeno grande universo criativo. 
Algo abstrato se construía, aos poucos as formas ganhavam vida ou a nossa imaginação dava vida a elas. Uma pequena tribo surgia, uma indústria de idéias, o jardim das violetas, a árvore de borboletas, um totem, uma ponte com piranhas vegetarianas e um barco no alto da industria de idéias, faziam a entrega das idéias em barcos pelo mundo. E naquela dia, havia chovido colorido.
Enfim, o portal se abriu. 1,2,3, e já! Estamos em casa!


Considerações finais:

Um estado de criança, simplesmente ser.  Não precisamos fingir. É um estado natural que conseguimos alcançar.  Acho que isso é liberdade.  

Enfim... O outro dia! TANTA TINTA!




Ah! Menina tonta.

Toda suja de tinta
mal o sol desponta!
(sentou-se na ponte,
muito desatenta...
e agora se espanta:
quem é que a ponte pinta
com tanta tinta?...)
A ponte aponta
e se desaponta.
A tontinha tenta
limpar a tinta,
ponto por ponto
e pinta por pinta...
Ah! A menina tonta!
Não viu a tinta na ponte

Quanta tinta Guga!

Começamos de tarde preparando a sala para a noite tão esperada! A noite da tinta.
Fizemos quadrados com os papeis, deixamos a sala limpa e organizada. Mal sabíamos como ela ficaria no final da noite. Só Tinta e gargalhada!

Cada um escolheu um quadrado de papel e um pote de tinta. Começamos com uma palavra e essa palavra era o inicio de muitas outras que se transformavam. Do AR surgiu a ARARA, do PÓ surgiu o POMAR.  Da MÃO surgiu SIMÃO.  Da FÉ surgiu o FETO.  Em movimentos circulares passávamos de um quintal para o outro, e íamos complementado o quintal do outro com a nossa arte. Somos muito arteiros eu acho.

Começamos pela pontinha do dedo e um pinguinho de tinta. E de repente esse pinguinho de tinta de transformou em uma tempestade de pingos brancos, amarelos, azuis e vermelhos.  E quando percebemos, nos tornamos a tinta!

Voltamos para o nosso jardim inicial. Guga colocou a canção “antigamente” e entramos no universo das Kartas, da menina que deixava para trás a sua boneca. Caminhei pelo espaço, sentia como se cada quintal tivesse uma boneca que um dia fora deixado por alguma criança. A boneca de Ju, o boneco de João, a boneca de Karin, o robô de Edgard.  Queria acalentá-los, mas a solidão de cada um era tanto que não pude. 

Avistei alguém, repleto de cores e esquisitices. Simplesmente sentei e ali fiquei. A chuva de tinta cobria o meu corpo e quando percebi, aquele  homem engraçado, me protegia da chuva me envolvendo em um manto de plástico.  E a poesia aconteceu.

Considerações finais:
Um mergulho poético na tinta. “Fique muda e o mundo se abrirá” e assim aconteceu.


Pirandopoles*- Um lugar dentro de cada um que podemos pirar e pirar;
Tiuithxu*- Quando não conseguimos dar conta das informações em  nossa mente;
Misselania*- Um misto de coisas meladas;

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Tentando me encontrar no Caminho...


Tenho muitas coisas para escrever, não sei se o que eu vou escrever agora irá interessar a todos. Mas preciso me expressar e buscar entender algo que pulsa forte dentro de mim e que eu não tenho conseguido compreender. Eu mesma eu acho... Acho que é um trabalho bem pessoal e que faz parte de mim, e nesse momento preciso disso, então não precisa continuar lendo se não quiser... serei apenas eu, tentando encontrar um caminho, um norte para minha vida, Deus em mim.
Sou atriz, meu instrumento de trabalho em mim está. E refletir sobre mim mesma faz parte do meu oficio. Nossa, que linda profissão!
Não vejo como um diário terapêutico, mas sim como uma ferramenta através da arte para tentar me conhecer, me enraizar e poder ser e criar com mais força, uma kamila pura e verdadeira, sabendo o que quer com o teatro e a que veio nesse mundo.  Preciso encontrar, quero encontrar e almejo encontrar.

O que?

! É a palavra que pulsa incessantemente dentro mim. Onde está a minha fé? Onde está a Kamila de fé?

Acho que deixei de lado por um tempo...  Mas quero resgata - lá.

 É isso, no processo de histórias Brincantes de muitos amigos  quero resgatar a  minha querida  AMIGA FÉ.  A fé faz sair a ra roz  que existe em mim, a faz brotar a licidade que habita em mim, a me deixa mais liz, a faz lembrar o to que um dia fui e que hoje sou  a Kamila rrazzi.
Não quero perder a minha fé, a fé que me  alimenta e guia o meu caminho para o belo, para o bem, mesmo que às vezes doa. A fé faz com que fiquemos pertinho de nós mesmos. Pertinho de Deus. Quero em mim a de Marias, a de Marilzas, a de Leticias, a de Simones e a de Cristinas.
Fémenina, fémulher,fécriança, féhomem, févelho!

“Ontem um menino que brincava me falou
que hoje é semente do amanhã...
Para não ter medo que este tempo vai passar...
Não se desespere não, nem pare de sonhar
Nunca se entregue, nasça sempre com as manhãs...
Deixe a luz do sol brilhar no céu do seu olhar!
na vida no homem, no que virá!
nós podemos tudo,
Nós podemos mais
Vamos lá fazer o que será”
Gonzaginha.

Deus,
Quero me Mudar!      
De casa?
Sim!
Tem certeza?
Não!
O que quer mudar então?  A ti?
Sim, a Mim.
Então não precisa se mudar, basta mudar.
Mas como?
Não sei. Não sei todas as respostas.
Como não, você é Deus!
Não, sou apenas você.
Por que estou falando comigo mesma então? Sou maluca?
Sim!
O que está dizendo?
Sim você é maluca, Fala com você mesma.
Não está me ajudando muito...
Acha que a vida é fácil pequena, busque pelas suas respostas, não exija elas de mim.
Buscar, buscar, buscar.... buscar um motivo... um motivo em Cecília.

 “Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.

Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.

Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
mais nada.”

Ai menina, por que quer sempre se encontrar?
Por que eu não quero me perder pra sempre.
Sempre se perderá se achar que nunca se encontrará?
Mas eu quero me encontrar.
Mas já se encontrou um dia?
Acho que sim, mas só um pedaçinho de mim, agora tem todo o resto.
Todo o resto? De que?
De mim ué... Mas o bom é que sou pequenininha então vai ser mais fácil eu acho.
Ai menina, você é uma graça.  Será que está procurando no lugar certo? Vou te dar uma dica, fique muda e mundo se abrirá.
Mas...
SHIIIIIIII!
Ual... disse a menina que encontrará seu sorriso.

When I was just a little girl
I asked my mother, what will I be
Will I be pretty, will I be rich
Here's what she said to me


Que Sera, Sera
Whatever will be, will be
The future's not ours, to see
Que Sera, Sera
What will be, will be


When I was young, I fell in love
I asked my sweetheart what lies ahead
Will we have rainbows, day after day
Here's what my sweetheart said


Que Sera, Sera
Whatever will be, will be
The future's not ours, to see
Que Sera, Sera
What will be, will be


Now I have children of my own
They ask their mother, what will I be
Will I be handsome, will I be rich
I tell them tenderly

Que Sera, Sera
Whatever will be, will be
The future's not ours, to see
Que Sera, Sera

What will be, will be

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Pequeno Grande Relato de uma Pequena menina no Grande Abração


“Kartas brincantes de muitos amigos carteiros”
Não!
“Bonecas brincantes de amigos viajantes”
Não!
“Histórias  de cartas brincantes e viajantes de muitos amigos”

Ah, desisto.

Não,não desisto, é só o começo!

 E começamos ou recomeçamos bem. Neste misto de criação coletiva e afetiva vamos semeando  idéias de um quintal para o outro e assim nos nutrindo.
O coração começa a pulsar forte... “Será que eu vou dar conta? que caminho eu sigo?  por onde eu começo?”  Bom... Vou começar escrevendo uma carta, ou 2 ou 3.  Através das cartas que escrevo, tenho conhecido ou reconhecido mais um pouco de cada personagem. Hora escrevo uma carta de Dora para Franz. Hora escrevo uma carta da boneca para menina e assim vou seguindo os meus escritos tentando encontrar caminhos para nossa história.

Bom... Aqui estou no mistério do sem fim a procura do meu jardim. Já comecei a reconhecê-lo, ouço belas musicas, brincadeiras de criança e um mundo de poesia. 
3 seres estão colorindo o nosso jardim. Em todos os encontros ouvimos 2 ou 3 musicas de Tom Jobim trazidas por Edgard, lemos algumas poesias de Cecilia Meireles trazidas por Juliana e  vemos algumas imagens  de Tarsila do Amaral trazidas por Karin. Estamos em busca do nosso quintal individual que logo se tornará um quintal em comum.
Temos recebidos muitos presentes ou pistas que dão a direção do nosso quintal... Neste caminho recebemos uma oração, que nos guiará durante todo o caminho.

“Há um menino, há um moleque, morando sempre no meu coração
Toda vez que o adulto balança ele vem pra me dar a mão
Há um passado no meu presente, o sol bem quente lá no meu quintal
Toda vez que a bruxa me assombra o menino me dá a mão
Me fala de coisas bonitas que eu acredito que não deixarão de existir
E não posso aceitar sossegado qualquer sacanagem ser coisa normal

Bola de meia, bola de gude, o solidário não quer solidão
Toda vez que a tristeza me alcança o menino me dá a mão
Há um menino, há um moleque morando sempre no meu coração
toda vez que o adulto balança ele vem pra me dar a mão
Há um menino, há um moleque morando sempre no meu coração
Toda vez que o adulto balança ele vem pra me dar a mão
Há um passado, no meu presente, um Sol bem quente lá no meu quintal
Toda vez que a bruxa me assusta o menino me dá a mão

Ele fala de coisas bonitas que eu acredito que não deixarão de existir
Amizade, palavra, respeito, caráter, bondade, alegria e amor
Pois não posso, não devo, não quero viver como toda essa gente insiste em viver
E não posso aceitar sossegado qualquer sacanagem ser coisa normal

Bola de Meia, Bola de gude, o solidário não quer solidão
Toda vez que a tristeza me alcança o menino me dá a mão
Há um menino, há um moleque morando sempre no meu coração
toda vez que o adulto fraqueja ele vem pra me dar a mão”.

Começamos na Primavera que um dia foi velha...como a  memória antiga...
Karin,  nos presenteou com um álbum de fotografias. Resgatando a sua e a nossa infância. Obrigada.

Iniciamos o jogo, a prática. Resgatando a brincadeira, nos aquecemos  jogando dança da cadeira. E agitados com a brincadeira fomos para o nosso quintal individual. 
Algumas sementinhas já estão sendo germinadas...

Encontramos uma laranjeira,com muitas laranjas!! Encontramos os tons de muito tons, o tom do mar, o tom das cores, o tom da musica e o tom da vida...Tatá, Tom, e Ceci! Sim encontramos o C. Já imaginou se só existisse o “C”, Cor, comida, coração, caqui, casa... C de Cecília. Encontramos a aquarela de toquinho, não, de Tarcila, ah... De todos nós.
Com a singela canção de toquinho, nos deixamos levar pela musica e nos permitimos que as cores entrassem em nosso corpo e pudéssemos pintar o mundo com nossos gestos. Fizemos uma ciranda, jogamos peteca e apenas brincamos... Como eu gosto de vocês.

“Numa folha qualquer eu desenho um sol amarelo
E com cinco ou seis retas é fácil fazer um castelo
Corro o lápis em torno da mão e me dou uma luva
E se faço chover, com dois riscos tenho um guarda-chuva
Se um pinguinho de tinta cai num pedacinho azul do papel
Num instante imagino uma linda gaivota a voar no céu
Vai voando, contornando a imensa curva norte-sul
Vou com ela viajando Havaí, Pequim ou Istambul
Pinto um barco a vela branco navegando
É tanto céu e mar num beijo azul
Entre as nuvens vem surgindo um lindo avião rosa e grená
Tudo em volta colorindo, com suas luzes a piscar
Basta imaginar e ele está partindo, sereno e lindo
E se a gente quiser ele vai pousar
Numa folha qualquer eu desenho um navio de partida
Com alguns bons amigos bebendo de bem com a vida
De uma América a outra consigo passar num segundo
Giro um simples compasso e num círculo eu faço o mundo
Um menino caminha e caminhando chega no muro
E ali logo em frente a esperar pela gente o futuro está
E o futuro é uma astronave que tentamos pilotar
Não tem tempo nem piedade nem tem hora de chegar
Sem pedir licença muda nossa vida
Depois convida a rir ou chorar
Nessa estrada não nos cabe conhecer ou ver o que virá
O fim dela ninguém sabe bem ao certo onde vai dar
Vamos todos numa linda passarela
De uma aquarela que um dia enfim
Descolorirá
Numa folha qualquer eu desenho um sol amarelo
Que descolorirá
E com cinco ou seis retas é fácil fazer um castelo
Que descolorirá
Giro um simples compasso e num círculo eu faço o mundo
Que descolorirá”
Um novo amigo chegou para colorir o nosso quintal da criação. Trazido pelo amor do Edgard, Mach vem se achegando no abraço carinhoso de todos. Com a musicalidade vem plantando sementes do bem. Cantamos e tocamos juntos, em roda, afinados ou não,ritmados ou não, nos divertimos muito.
Obá! E Falando em musica a Karlinha chegou! Nossa compositora musical que com sua intuição e amor pela musica, sacraliza  os pequenos momentos juntos. Um estado de concentração e harmonia se cria para que a musica possa fluir e entrar em nossos corações. “ Voaremos como Pássaros...Tão Alto Tão alto”. É só o começo... Estou ansiosa!!

“Ai que amor” É como eu chamaria nosso processo criativo até agora, acho que minhas lágrimas tem Re-significado meu amor pelo teatro, pelo teatro que fazemos no abração. Estou amando participar deste processo, sinto que a energia está boa e amorosa e com amor tudo fica gostoso, as dificuldades se transformam em desafios, nossas duvidas  nos fortalecem e as  nossas crises se tornam  risadas e não martírios. Obrigada por me proporcionarem esses momentos de aprendizado.

Estou na busca dos personagens de “Kafka e a Boneca Viajante” .
Franz, Dora, A Boneca, A Menina e sua Mãe.

Quem são esses personagens e a que vieram? E como transpor em uma obra teatral com a nossa linguagem e especificidade?   Temos que conhecê-los ou talvez reconhecê-los bem. Digo reconhecê-los, pois são personagens humanos,  essa humanidade de cada um existe em nós.  Mas precisamos buscar,  buscar para nos encontrar. E essa busca tem sido muito bela e prazerosa  para mim.

Estou tentando encontrar essa menina!  Que não é a Miranda, que não é o Dorminhoco e que não é a Kamila, é a Zizi. Mas que tem a curiosidade da Miranda, a ingenuidade do Dorminhoco, a doçura e a pimenta de Kamila.

Os encontros tem sido prazerosos, divertidos e profundos.
Isabelle Neri tem assistido os ensaios e contribuído para o processo de criação.
Hoje ela falou sobre a guerra do escritor com as palavras e como ir de encontro com cada palavra e união entra ela o lápis e o papel. Isso me trouxe diversas imagens e vou refletir sobre a construção desse nosso escritor.

Guga Cidral participou do nosso ensaio hoje também, e contribuiu muito com a nossa busca.  Ele falou sobre a relação da Boneca com a menina e trouxe a tona uma musica que se chama “Antigamente”. Será um bom ponto de partida para a construção da relação entre Zizi e a Boneca K.

“Antigamente eu tinha um nome tão bonito
Antigamente ela era minha mãe
Antigamente eu era a filha mais querida
Antigamente eu vivia de verdade
Agora estou aqui, tão só
Coberta pelo pó

Ela dizia que não ia me esquecer
Que eu sentia como senti um bebê
Me defendia quando me tratavam mal
E até brigava com quem zombava de mim
E agora vai me dar
Só ocupo lugar

Trocava minha fralda mais de vinte vezes
Me desbotei de tanto ela me dar banho
Passava em mim um vidro inteiro de perfume
Depois me maquiava como sua mãe
E agora estou com tanto medo
Voltar ser um brinquedo

Mas que bobinha boneca de estimação
Você vai morar sempre dentro do meu coração
Você pra mim é bem mais que um brinquedo
Você é quem sabe todos os meus segredos

Mesmo que eu nunca brinque contigo
Como alguns anos atrás
Até que eu tento mas já não consigo
Pois me distraio demais

É que eu cresci
Não sei por quê
Não vou fingir
Você tem que entender...

Nem percebi quando tudo perdeu sua graça
Tantas historias parecem que foram apagadas
Mas eu não vou ser daquelas crianças
Que para crescer joga fora a infância

Eu já avisei toda a minha família
Que você eu nunca vou dar
Você vai ser filha da minha filha
Depois que eu me casar

Não vai demorar
Você vai ver
É só esperar
Tente entende”

O Primeiro Encontro


Diálogo

Escritor: Olá!
Menina parou de gritar, mas não de chorar
Escritor: Olá! O que aconteceu?
Menina não disse nada, mas seu olhar choroso demonstrava toda sua tristeza para o desespero do escritor.
Escritor: Você se perdeu?
Menina: Eu Não!
Escritor: Hum... Onde você mora?
A menina aponta pra diante
Escritor: Entendo... Alguém machucou você?
Menina:  Eu não!
Escritor: Quer dizer então que você não se perdeu?
Menina: Eu Não! Já disse!
Escritor: Quem então?
Menina: A minha boneka.
Escritor: Sua Boneca? (repetiu estupidamente e pois se a caminhar, olhou para a menina mas não teve coragem de abandoná-la)
Menina: É! Disse a menina chorosa
Escritor: Onde Você viu ela pela ultima vez?
Menina: Naquele Banco!
Escritor: E Você? Onde estava?
Menina: Estava lá... Brincando!
Escritor: E ficou lá muito tempo?
Menina: Não sei...
Escritor: Ahh! Espere um pouco! Que bobagem a minha....Qual é o nome da sua boneca?
Menina: “K”
Escritor: Boneka “K”. Claro! Rindo sem parar...
Menina: Qual e a graça?
Escritor: Hora, me desculpe menina, é claro. Não me lembrava do nome! Às vezes sou tão avoado com tanto trabalho...
Menina: Hum?
Escritor:  Sua boneca não se perdeu... imagina! Ela foi viajar!
Menina: Viajar?
Escritor: Isso mesmo.
Menina: Como Assim? Para onde?
Escritor: Venha, vamos sentar ali que eu vou te explicar, esse meu trabalho me cansa muito sabe....
Menina: Humm... Responde meio duvidosa
Escritor:  O seu nome é, é, é, é....
Menina: Elzi, mas me chamam de Zizi!
Escritor: Claro, onde eu estou com a cabeça... Zizi! É a sua boneca, claro, pois a Karta é para você!
Menina: Que Karta?
Escritor:  A que ela escreveu. A sua boneca “K” escreveu uma karta pra você  explicando porque foi embora tão de repente. Mas com a pressa, eu acabei por deixa-lá em casa. Mas amanhã eu trago para você ler, combinado?
Menina: Porque a minha boneca foi viajar sem mim?
Escritor: Há quanto tempo ela era sua boneca?     
Menina: Ela sempre foi a minha boneca!
Escritor: A vida inteira?
Menina: É!
Escritor: Então foi por isso!
Menina: Por quê?
Escritor: Você tem irmãos ou irmãs mais velhos?
Menina:Tenho!
Escritor: Algum se casou?
Menina:Não!
Escritor: Puxa vida...
Menina:Ah! Mas a minha tia Ruti sim!
Escritor: E ela não deixou a casa dos pais?
Menina:Deixou sim!
Escritor: Então,  sua boneca K fez a mesma coisa. Ela está na idade em que as bonecas precisam se emancipar.
Menina: Hum?
Escritor: Quero dizer... Chegou a hora de deixar a casa dos pais, para viajar, conhecer a vida, o mundo e talvez um futuro maravilhoso...
Menina: Sabe... Ela nunca conversou comigo sobre isso... Mas minha boneca K  era mesmo sonhadora. Sabe o que eu mais gostava nela? O jeito doce que ela olhava o mundo, ela nunca ficava triste, quando estava com ela tudo ficava mudo! É parecia que tudo mudava...Não falava muito mais observava tudo, ela nem piscava...  Podia girar sua cabeça ao redor de todo o seu corpo que nem estralava...  Mas por que a minha boneca  Escreveu para o senhor?
Escritor: Porque eu sou um carteiro de bonecas!
Menina: ...Mas...  Os carteiros não entregam as cartas nas casas das pessoas?
Escritor:  Os carteiros normais sim, mas não os carteiros de bonecas. As cartas das bonecas são especiais.  Porque são diferentes, tem que ser entregues as suas destinatárias em mãos. Não acha que seus pais ficariam surpresos se você, sendo tão pequena, recebesse uma carta? E se eles preferissem ler antes, por curiosidade? Será que você iria gostar?
Menina: Não!
Escritor:  Então!
Menina: Eh... Eu ainda não sei ler muito bem...
Escritor: Esta vendo? Isso acontece com muita frequência. As meninas que recebem as cartas não conseguem ler, então eu leio para elas! Em voz alta! Para isso serve um carteiro de bonecas! É um trabalho muito importante.
Menina: Sabe... Você  ia adorar  conhecer a minha vó, ela também  trabalha com as bonecas, Mas não é uma  carteira como o senhor , é uma médica! É!  médica de bonecas... Sua especialidade na medicina é.. é... costureira! Ela e uma ótima médica...sempre cuidou de todos os machucados de Elsi.  Um vez... logo quando Elsi nasceu... pêra ai... Como nascem as bonecas?  
Escritor: Acho que em bolinhas dentro da canecas!   Por  isso se chamam bonecas...
Menina: Você é meio estranho....mas eu gostei de você. Sabe a “K” é minha única amiga. Você tem muitos  amigos?
Escritor:  Dois!
Menina:  Dois! Que legal?  Qual é o nome deles...
Escritor:  Lápis e papel... Mas acho que estamos meio brigados!
Menina: Que pena! Ah, seus amigos me fizeram lembrar da Karta que  Minha Boneka “K” me escreveu! Pode Ir buscar agora?
Escritor: Sinto Muito. Infelizmente meu horário de trabalho terminou ainda  a pouco...  E você também tem que ir pra casa não é?
Menina: Os ponteiros ainda não estão juntos... mas falta pouco... ah...  Que horas o senhor começa a trabalha amanha?
Escritor: Ah que horas você vem ao parque?
Menina: Quando os dois ponteiros estão assim.
Escritor:  Ah! Que bom! Exelente! Bem na hora que eu começo! Amanha você será a primeira.
Menina: Então, vai me trazer a Karta?
Escritor: Claro! Afinal é o meu trabalho!
Menina: Então até amanha!
Escritor: Até amanha Elzi!

Menina: Me chame de Zizi... e espero que você e seus amigos façam as pazes! 

A Menina Chorosa

A menina chora pela boneca que se foi embora
Ora, ora,ora...
Não chore tanto!Nossa senhora!
A menina chora no parque...
Um choro se fim.
Nem o céu azul é bonito agora
Pois a boneca já se foi embora
Não chore tanto! Nossa senhora!
Que choro sem fim... A menina chora, 
No claro parque, pela boneca que se foi embora

Ora, ora, ora...

Minha Boneka

Sabe o que eu mais gostava na Elsi?

O jeito doce que ela olhava o mundo, ela nunca ficava triste, quando estava com ela tudo ficava mudo!
É parecia que tudo mudava...
Não falava muito mais observava tudo, ela nem piscava... 
Podia girar sua cabeça ao redor de todo o seu corpo e nem estralava...
Sabe Franz... Você  ia adorar  conhecer a minha vó, ela também  trabalha com as bonecas,
Mas não é uma  carteira como o senhor , é uma médica! É!  médica de bonecas... Sua especialidade na medicina é.. é... costureira! Ela e uma ótima médica...sempre cuidou de todos os machucados de Elsi.
Um vez... logo quando Elsi nasceu... pêra ai...
Como nascem as bonecas? 
Em bolinha dentro da caneca?  Por  isso se chamam bonecas?
Você é meio estranho Franz... mas eu gosto de você.
Sabe a Elsi é minha única amiga.
Você tem muitos  amigos?
Dois! Que legal?  Qual é o nome deles...
Lápis e papel... que esquisito!
Ah Franz, seus amigos me fizeram lembrar que eu escrevi uma carta para Elsi...

Pode entregar?

Meu menino Besouro

Meu Franz...

Oh  meu escritor... Quem diria que ao seus quarenta e tantos anos, o senhor, velho, tuberculoso, com suas rugas,barbudo,  encontraria um singelo choro que mudaria a sua vida. Como não acreditar em milagres... Onde foi que se perdeu? Onde está o  brilho de Franz? a criança que um dia saltitou pelo mundo, sonhou como ninguém e voou como o vento.  Onde foi que se perdeu?  Sim... aquele quintal, onde as palavras coloridas permeavam  e voavam  entre as arvores, onde o papel encontrou formas, e  você, pequeno  Franz...Deu vida a elas.
Eita menino tosco, porque essa brabeza? Esse mau humor? Essa testa enrugada? Ora menino deixe de ser tolo. Você é um escritor... criança, criador e sonhador.  Ah... quem sou eu pra lhe falar isso, você não me escuta não é?! Nunca me escuta.
Meu velho e murmurado escritor... Quem o tiraria de seu escritório? Quem faria sorrir novamente?  Quem reencontraria a sua vontade de escrever?  O seu brilho nos olhos? A sua pureza?
Um Choro, a singela lágrima de uma pequenina menina.... Esse é o meu Franz, esse é o meu Franz...



A primeira Karta- A Fulga

Minha Querida e Amada Amiga,
Sou apenas uma pequena boneca tentando me encontrar. Escrevo, pois não tive coragem de olhar nos seus olhos e dizer adeus. Tive medo, fui cruel e reconheço. Mas precisava ir embora. Há algum tempo me sentia distante, distante de mim mesma.  Precisava sair, fugir para algum lugar. Mas percebo agora que não posso fugir de mim mesma.
Aqui estou, solitária, caminhando pelo mundo em busca de...
Tomei uma decisão. Ir embora, e agora devo arcar com as minhas escolhas e seguir adiante.
Não voltarei tão cedo. Mas não fique triste minha pequena menina. Estarei em você tão forte quanto você está em mim.
Enxugue suas lágrimas  e sorria, em seu sorriso encontro a sua essência.
Com carinho,
K.

Menina-  Ela nunca mais vai voltar?