quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Pequeno Grande Relato de uma Pequena menina no Grande Abração


“Kartas brincantes de muitos amigos carteiros”
Não!
“Bonecas brincantes de amigos viajantes”
Não!
“Histórias  de cartas brincantes e viajantes de muitos amigos”

Ah, desisto.

Não,não desisto, é só o começo!

 E começamos ou recomeçamos bem. Neste misto de criação coletiva e afetiva vamos semeando  idéias de um quintal para o outro e assim nos nutrindo.
O coração começa a pulsar forte... “Será que eu vou dar conta? que caminho eu sigo?  por onde eu começo?”  Bom... Vou começar escrevendo uma carta, ou 2 ou 3.  Através das cartas que escrevo, tenho conhecido ou reconhecido mais um pouco de cada personagem. Hora escrevo uma carta de Dora para Franz. Hora escrevo uma carta da boneca para menina e assim vou seguindo os meus escritos tentando encontrar caminhos para nossa história.

Bom... Aqui estou no mistério do sem fim a procura do meu jardim. Já comecei a reconhecê-lo, ouço belas musicas, brincadeiras de criança e um mundo de poesia. 
3 seres estão colorindo o nosso jardim. Em todos os encontros ouvimos 2 ou 3 musicas de Tom Jobim trazidas por Edgard, lemos algumas poesias de Cecilia Meireles trazidas por Juliana e  vemos algumas imagens  de Tarsila do Amaral trazidas por Karin. Estamos em busca do nosso quintal individual que logo se tornará um quintal em comum.
Temos recebidos muitos presentes ou pistas que dão a direção do nosso quintal... Neste caminho recebemos uma oração, que nos guiará durante todo o caminho.

“Há um menino, há um moleque, morando sempre no meu coração
Toda vez que o adulto balança ele vem pra me dar a mão
Há um passado no meu presente, o sol bem quente lá no meu quintal
Toda vez que a bruxa me assombra o menino me dá a mão
Me fala de coisas bonitas que eu acredito que não deixarão de existir
E não posso aceitar sossegado qualquer sacanagem ser coisa normal

Bola de meia, bola de gude, o solidário não quer solidão
Toda vez que a tristeza me alcança o menino me dá a mão
Há um menino, há um moleque morando sempre no meu coração
toda vez que o adulto balança ele vem pra me dar a mão
Há um menino, há um moleque morando sempre no meu coração
Toda vez que o adulto balança ele vem pra me dar a mão
Há um passado, no meu presente, um Sol bem quente lá no meu quintal
Toda vez que a bruxa me assusta o menino me dá a mão

Ele fala de coisas bonitas que eu acredito que não deixarão de existir
Amizade, palavra, respeito, caráter, bondade, alegria e amor
Pois não posso, não devo, não quero viver como toda essa gente insiste em viver
E não posso aceitar sossegado qualquer sacanagem ser coisa normal

Bola de Meia, Bola de gude, o solidário não quer solidão
Toda vez que a tristeza me alcança o menino me dá a mão
Há um menino, há um moleque morando sempre no meu coração
toda vez que o adulto fraqueja ele vem pra me dar a mão”.

Começamos na Primavera que um dia foi velha...como a  memória antiga...
Karin,  nos presenteou com um álbum de fotografias. Resgatando a sua e a nossa infância. Obrigada.

Iniciamos o jogo, a prática. Resgatando a brincadeira, nos aquecemos  jogando dança da cadeira. E agitados com a brincadeira fomos para o nosso quintal individual. 
Algumas sementinhas já estão sendo germinadas...

Encontramos uma laranjeira,com muitas laranjas!! Encontramos os tons de muito tons, o tom do mar, o tom das cores, o tom da musica e o tom da vida...Tatá, Tom, e Ceci! Sim encontramos o C. Já imaginou se só existisse o “C”, Cor, comida, coração, caqui, casa... C de Cecília. Encontramos a aquarela de toquinho, não, de Tarcila, ah... De todos nós.
Com a singela canção de toquinho, nos deixamos levar pela musica e nos permitimos que as cores entrassem em nosso corpo e pudéssemos pintar o mundo com nossos gestos. Fizemos uma ciranda, jogamos peteca e apenas brincamos... Como eu gosto de vocês.

“Numa folha qualquer eu desenho um sol amarelo
E com cinco ou seis retas é fácil fazer um castelo
Corro o lápis em torno da mão e me dou uma luva
E se faço chover, com dois riscos tenho um guarda-chuva
Se um pinguinho de tinta cai num pedacinho azul do papel
Num instante imagino uma linda gaivota a voar no céu
Vai voando, contornando a imensa curva norte-sul
Vou com ela viajando Havaí, Pequim ou Istambul
Pinto um barco a vela branco navegando
É tanto céu e mar num beijo azul
Entre as nuvens vem surgindo um lindo avião rosa e grená
Tudo em volta colorindo, com suas luzes a piscar
Basta imaginar e ele está partindo, sereno e lindo
E se a gente quiser ele vai pousar
Numa folha qualquer eu desenho um navio de partida
Com alguns bons amigos bebendo de bem com a vida
De uma América a outra consigo passar num segundo
Giro um simples compasso e num círculo eu faço o mundo
Um menino caminha e caminhando chega no muro
E ali logo em frente a esperar pela gente o futuro está
E o futuro é uma astronave que tentamos pilotar
Não tem tempo nem piedade nem tem hora de chegar
Sem pedir licença muda nossa vida
Depois convida a rir ou chorar
Nessa estrada não nos cabe conhecer ou ver o que virá
O fim dela ninguém sabe bem ao certo onde vai dar
Vamos todos numa linda passarela
De uma aquarela que um dia enfim
Descolorirá
Numa folha qualquer eu desenho um sol amarelo
Que descolorirá
E com cinco ou seis retas é fácil fazer um castelo
Que descolorirá
Giro um simples compasso e num círculo eu faço o mundo
Que descolorirá”
Um novo amigo chegou para colorir o nosso quintal da criação. Trazido pelo amor do Edgard, Mach vem se achegando no abraço carinhoso de todos. Com a musicalidade vem plantando sementes do bem. Cantamos e tocamos juntos, em roda, afinados ou não,ritmados ou não, nos divertimos muito.
Obá! E Falando em musica a Karlinha chegou! Nossa compositora musical que com sua intuição e amor pela musica, sacraliza  os pequenos momentos juntos. Um estado de concentração e harmonia se cria para que a musica possa fluir e entrar em nossos corações. “ Voaremos como Pássaros...Tão Alto Tão alto”. É só o começo... Estou ansiosa!!

“Ai que amor” É como eu chamaria nosso processo criativo até agora, acho que minhas lágrimas tem Re-significado meu amor pelo teatro, pelo teatro que fazemos no abração. Estou amando participar deste processo, sinto que a energia está boa e amorosa e com amor tudo fica gostoso, as dificuldades se transformam em desafios, nossas duvidas  nos fortalecem e as  nossas crises se tornam  risadas e não martírios. Obrigada por me proporcionarem esses momentos de aprendizado.

Estou na busca dos personagens de “Kafka e a Boneca Viajante” .
Franz, Dora, A Boneca, A Menina e sua Mãe.

Quem são esses personagens e a que vieram? E como transpor em uma obra teatral com a nossa linguagem e especificidade?   Temos que conhecê-los ou talvez reconhecê-los bem. Digo reconhecê-los, pois são personagens humanos,  essa humanidade de cada um existe em nós.  Mas precisamos buscar,  buscar para nos encontrar. E essa busca tem sido muito bela e prazerosa  para mim.

Estou tentando encontrar essa menina!  Que não é a Miranda, que não é o Dorminhoco e que não é a Kamila, é a Zizi. Mas que tem a curiosidade da Miranda, a ingenuidade do Dorminhoco, a doçura e a pimenta de Kamila.

Os encontros tem sido prazerosos, divertidos e profundos.
Isabelle Neri tem assistido os ensaios e contribuído para o processo de criação.
Hoje ela falou sobre a guerra do escritor com as palavras e como ir de encontro com cada palavra e união entra ela o lápis e o papel. Isso me trouxe diversas imagens e vou refletir sobre a construção desse nosso escritor.

Guga Cidral participou do nosso ensaio hoje também, e contribuiu muito com a nossa busca.  Ele falou sobre a relação da Boneca com a menina e trouxe a tona uma musica que se chama “Antigamente”. Será um bom ponto de partida para a construção da relação entre Zizi e a Boneca K.

“Antigamente eu tinha um nome tão bonito
Antigamente ela era minha mãe
Antigamente eu era a filha mais querida
Antigamente eu vivia de verdade
Agora estou aqui, tão só
Coberta pelo pó

Ela dizia que não ia me esquecer
Que eu sentia como senti um bebê
Me defendia quando me tratavam mal
E até brigava com quem zombava de mim
E agora vai me dar
Só ocupo lugar

Trocava minha fralda mais de vinte vezes
Me desbotei de tanto ela me dar banho
Passava em mim um vidro inteiro de perfume
Depois me maquiava como sua mãe
E agora estou com tanto medo
Voltar ser um brinquedo

Mas que bobinha boneca de estimação
Você vai morar sempre dentro do meu coração
Você pra mim é bem mais que um brinquedo
Você é quem sabe todos os meus segredos

Mesmo que eu nunca brinque contigo
Como alguns anos atrás
Até que eu tento mas já não consigo
Pois me distraio demais

É que eu cresci
Não sei por quê
Não vou fingir
Você tem que entender...

Nem percebi quando tudo perdeu sua graça
Tantas historias parecem que foram apagadas
Mas eu não vou ser daquelas crianças
Que para crescer joga fora a infância

Eu já avisei toda a minha família
Que você eu nunca vou dar
Você vai ser filha da minha filha
Depois que eu me casar

Não vai demorar
Você vai ver
É só esperar
Tente entende”

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