Preciso escrever! 
PALAVRAS!
Mesmo que não faça sentido nesse momento, no final de tudo,
encontro um sentido para os meus pensamentos que estão a 1000 km/h. 
Nossa!
Estou em casa após um intenso ensaio. Minha cabeça está
quase dando um tiuithxu* de tanta informação.  Acho que preciso fazer algo com elas, então
vou colocá-las no papel. 
Iniciamos o trabalho nessa semana após o Carnaval,   conduzido por Guga Cidral, um menino
maluquinho como nós, porem  com uma dose
de pimenta maior. 
Enquanto escrevo tento organizar os meus pensamentos, pois
estou envolta por imagens, tintas, musica e poesia. Uma misselania* de elementos,
todos na minha mente e no meu coração. 
A palavra pinta, a tinta voa, a música fala e nós... nós?
Onde estamos no meio dessa bagunça gostosa? Não sei mais o que é a musica, o
que é a tinta, o que é o som e  que são
as palavras.  Ah, tudo isso agora somos
nós. Como é possível? 
Magia! 
Mas, Vamos começar do começo. 
Iniciamos o trabalho brincando com as palavras, através da
musica, da poesia e dos sons. 
Guga, trouxe a Coletânea das poesias de Cecilia Meireles
narrada por Paulo Autran.  
Ouvíamos as doces palavras de Cicília  e tentávamos nos tornar a poesia a partir do
nosso corpo. Brincamos, exploramos inúmeras possibilidades. Um turbilhão de
sentimento surge em mim, alegria, tristeza,energia de viver,solidão....  Só resta entregar-se e fluir, como a vida,
como o rio, que simplesmente segue seu fluxo em busca de um caminho. Respirar
fundo é o comando, tire os pés do chão e vá além. 
Construindo um rabo! Será que é um rabão? Ou um Rabinho? 
Pensamentos: “Que esquisito” “que lindo” “Ops! me
desequilibrei”.  “AI!”
Palavras- água, eco, terra, mentira, liberdade, harmonia,
amigo,  favela, natureza viva, natureza
morta, cores, fruta, pé...palavra,palavras...
Com gestos e formas corporais, dávamos vida às palavras. 
Recebemos muitos materiais, papeis com muitas cores, azul,
amarelo,rosa, vermelho. 
Estávamos livres para construir, reconstruir, rasgar, picar,
dançar, compor, voar e brincar com os papeis, sempre conectados com a  musica e a condução do Guga. 
1° paço- Construir uma bailarina em um dos integrantes. (não
sejamos óbvios)  
Na construção, fomos criando formas com o papel e compondo a
nossa bailarina João. Num misto de idéias e 
harmonia criamos uma linda bailarina clown, com laçinhos e espada. 
2° paço- desconstrução.
Desconstruímos a bailarina João, e com os retalhos de papeis
criamos uma bailarina no ar, cada pedaço de papel que cada um segurava se
transformava em um pedaço da bailarina. As pernas, a saia , os braços e todo o
seu corpinho. Em um corpo só  dançamos
com ela pelo espaço. 
3° paço- Construção e desconstrução.
Como o vento que passa  levando as 
folhos, deixamos nossos papeis voarem. E o próximo comando foi  “A CUCA”. Em um corpo só, reunimos os
retalhos que pairavam pelo ar, e quando menos esperávamos nossa Cuca surgia. 
 MANACA!!  Gritou ele do alto do morro. 
Já sei, é um pássaro. Vamos voar muito alto! Ops, não voa! Está
na terra e bem enraizado. Descobrimos que é a árvore do Brasil. Que bela flor.
Delicada, lilás e cheirosos. 
Individualmente fomos para o nosso quintal. Para construí-lo
 com o papel e as cores. Uma maquete do
nosso pequeno grande universo criativo.  
Algo abstrato se construía, aos poucos as formas ganhavam
vida ou a nossa imaginação dava vida a elas. Uma pequena tribo surgia, uma indústria
de idéias, o jardim das violetas, a árvore de borboletas, um totem, uma ponte
com piranhas vegetarianas e um barco no alto da industria de idéias, faziam a
entrega das idéias em barcos pelo mundo. E naquela dia, havia chovido colorido.
Enfim, o portal se abriu. 1,2,3, e já! Estamos em casa! 
Considerações finais:
Um estado de criança, simplesmente ser.  Não precisamos fingir. É um estado natural que
conseguimos alcançar.  Acho que isso é
liberdade.  
Enfim... O outro dia! TANTA TINTA!
Ah! Menina tonta.
Toda suja de tinta
mal o sol desponta!
(sentou-se na ponte,
muito desatenta...
e agora se espanta:
quem é que a ponte pinta
com tanta tinta?...)
A ponte aponta
e se desaponta.
A tontinha tenta
limpar a tinta,
ponto por ponto
e pinta por pinta...
Ah! A menina tonta!
Não viu a tinta na ponte
Quanta tinta Guga!
Começamos de tarde preparando a sala para a noite tão
esperada! A noite da tinta. 
Fizemos quadrados com os papeis, deixamos a sala limpa e
organizada. Mal sabíamos como ela ficaria no final da noite. Só Tinta e
gargalhada!
Cada um escolheu um quadrado de papel e um pote de tinta.
Começamos com uma palavra e essa palavra era o inicio de muitas outras que se
transformavam. Do AR surgiu a ARARA, do PÓ surgiu o POMAR.  Da MÃO surgiu SIMÃO.  Da FÉ surgiu o FETO.  Em movimentos circulares passávamos de um
quintal para o outro, e íamos complementado o quintal do outro com a nossa
arte. Somos muito arteiros eu acho. 
Começamos pela pontinha do dedo e um pinguinho de tinta. E de
repente esse pinguinho de tinta de transformou em uma tempestade de pingos brancos,
amarelos, azuis e vermelhos.  E quando
percebemos, nos tornamos a tinta!
Voltamos para o nosso jardim inicial. Guga colocou a canção “antigamente”
e entramos no universo das Kartas, da menina que deixava para trás a sua
boneca. Caminhei pelo espaço, sentia como se cada quintal tivesse uma boneca
que um dia fora deixado por alguma criança. A boneca de Ju, o boneco de João, a
boneca de Karin, o robô de Edgard.  Queria acalentá-los, mas a solidão de cada um
era tanto que não pude. 
Avistei alguém, repleto de cores e esquisitices. Simplesmente
sentei e ali fiquei. A chuva de tinta cobria o meu corpo e quando percebi,
aquele  homem engraçado, me protegia da
chuva me envolvendo em um manto de plástico. 
E a poesia aconteceu. 
Considerações finais:
Um mergulho poético na tinta. “Fique muda e o mundo se
abrirá” e assim aconteceu. 
Tiuithxu*- Quando não conseguimos dar conta das
informações em  nossa mente;
Misselania*- Um misto de coisas meladas;
Misselania*- Um misto de coisas meladas;
 



