domingo, 30 de agosto de 2015

Karta ao besouro.

Sr Besouro, o senhor tem sido um grande lutador, dia e noite vê-se nos seus olhos uma tentativa de enfrentar a casca, que, aparentemente está se deformando, parece que quando se sente ameaçado você a exibe com olhos murchos, perdidos e medrosos, perdão, mas os olhos da alma vêem através de qualquer escudo.
Infelizmente você se deu conta do quão grande é o fardo de carregá-la e além disso, o confronto consigo mesmo que terá se quiser se livrar dela. Mas até que isso aconteça, haverão alguns momentos que cairá sobre ela e levantar será mais difícil ainda.
Não acho que a casca é ruim, muito pelo contrário, ela poderá ser o seu escudo protetor contra os males, e espero que consiga chegar nesse estágio. Mas, como já disse, é uma luta diária.

O motivo de escrever à você é para que saiba que estarei o aplaudindo no dia em que  ficar em pé sozinho, após várias tentativas, virando de um lado para o outro, debatendo suas perninhas, e depois disso, lançar-se no ar num vôo pleno, deixando na memória de todos: o dia em que o besouro acordou menino. 

Espero não vê-lo mais um menino que acorda besouro que sai se atirando pelos lados, batendo sua casca pelas paredes numa tentativa de fuga de si mesmo, conte com seus amigos também, não temos experiência em matar besouros, mas com certeza, se vermos um ferido, o ajudaremos.







"Oh, meu Deus, pensou, que trabalho tão cansativo escolhi! Viajar, dia sim, dia não. É um trabalho muito mais irritante do que o trabalho do escritório propriamente dito, e ainda por cima há ainda o desconforto de andar sempre a viajar, preocupado com as ligações dos trens, com a cama e com as refeições irregulares, com conhecimentos casuais, que são sempre novos e nunca se tornam amigos íntimos. Diabos levem tudo isto! Sentiu uma leve comichão na barriga; arrastou-se lentamente sobre as costas, - mais para cima na cama, de modo a conseguir mexer mais facilmente a cabeça, identificou o local da comichão, que estava rodeado de uma série de pequenas manchas brancas cuja natureza não compreendeu no momento, e fez menção de tocar lá com uma perna, mas imediatamente a retirou, pois, ao seu contato, sentiu-se percorrido por um arrepio gelado."
A Metamorfose, Franz Kafka.











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